Contra-voz em repente entre este que vos fala e Glauber Rocha.
— Perdóneme la pretensión, pero trato de hacer una estructura épica al estilo de Octubre, con mucha fuerza poética y emoción revolucionária. Creo que una cinta política debe ser también un estímulo cultural y artístico. Y, para nosotros, latinos, que somos colonizados cultural y económicamente, nuestro cine debe ser revolucionario desde el punto de vista político y poético, o sea, tenemos que presentar IDEAS NUEVAS CON UN LENGUAJE NUEVO. América Nuestra no pretende ser una cinta DIDÁCTICA, pero sí una MANIFESTACIÓN, UNA PELÍCULA DE AGITACIÓN, UN DISCURSO VIOLENTO y también prueba de que en el terreno de la cultura el hombre latino, libre de la explotación colonialista, es capaz de crear.
— Estoy platicando con Glauber a respecho del cine y estas cosas, como la poesia y la política etc. Y yo soy simpatico a sus ideas pero ni siempre concordamos; platicamos, es la palabra. Otro dia hicimos un repente, que, como sabes, es una espécie de poesia improvisada que hacén los poetas populares del noreste del Brasil al sonido de una melodia. Ésta quien hizo fue Villa-Lobos: es el segundo movimento del quarteto numero 5, vivo y enérgico - para el orixá guerreiro?
Mote:
O negócio é o seguinte:
como fazer cinema
num país onde, como diz Bolívar,
o povo sempre avizinha a linha invisível
que separa a fome da morte passiva?
Será preciso ainda muita morte e vida
e muita pedra no caminho
ou, como Guevara quis um dia,
não a romântica aventura
mas a epopéia didática
de lutar contra os moinhos?
Glosa:
Daí o problema
que entrelaça a poesia e o real:
Nosso retardamento romântico
e o fato de ainda não termos começado a pensar
nos levam a um troca-passo contínuo,
cujo resultado é um neo-surrealismo.
Eis a tônica estilística da fábula.
Fábula que os poetas anunciam
num tom tal que atravessa o tempo
— tal tom é a poesia —:
que seja uma incessante novidade,
como, aliás, a Terra em que habitas:
uma guerra atemporal pela vida,
portanto não sem um aqui e um agora
— expor-se ao fora —;
uma guerra sem batalhas
mas não sem mortes nem sem falhas:
fazer o combate em si,
encontrar-se sem cessar em guerrilha.
Ó Senhor, Senhores, meus Senhores!
Não sois somente Vós os detentores
da verdade e da consciência humanas.
Em todas as revoluções há
os Generais,
os Poetas
e os Políticos.
Há também os crápulas e os moralistas;
os heróis de todas as horas
e os tiranos dos últimos momentos.
Vós defendeis uma causa pela qual
milhões de homens morreram e continuam morendo
em todas as partes do mundo.
Mas vós esqueceis que esta causa
ainda não tem todas as suas leis definidas
e que a essência desta causa repousa
nas suas próprias contradições:
e são essas contradições que a movem.
Eu posso ser uma dessas contradições superadas.
Admito mesmo a minha morte.
Matem-me.
Mas não pensem que sobre uma sangrenta intolerância
se pode construir um verdadeiro humanismo.
Por isso matem-me,
mas secretamente,
como se mata um bandido.
Matem-me porque eu duvidarei sempre da verdade.
Mas que não seja apenas morte em série a vossa oferta covarde
Quero morrer no chão,
valendo, valente,
de morte humana,
real,
sofrida,
lenta como o tempo de uma vida.
Não vos peço a paz, tampouco apoio a vossa guerra,
mas deixai-me lutar a minha – ela é contra-voz –
e aos outros, ora, as suas…
Ó Senhor, ó Senhores,
não podeis me oferecer cosolo algum.
Não com a fome ou com os sonhos que me impões.
Nem com a saúde e as saudades que me tiras.
Mas não pense que ao vivê-las, com elas não aprenda:
O estômago digere e ensina,
enquanto o sonho se despedaça no real comum,
essa minha exígua vida
difere do que não li, que nem sei ler,
é longa a espera, eu amei:
a invenção de um povo,
morrer de morte em vida
e ser noite ao vir de novo.