21.12.06

Une biopolitique mineure
entretien avec Giorgio Agamben
réalisé par Stany Grelet & Mathieu Potte-Bonneville

19.12.06

neoSURrealismo

Contra-voz em repente entre este que vos fala e Glauber Rocha.

— Perdóneme la pretensión, pero trato de hacer una estructura épica al estilo de Octubre, con mucha fuerza poética y emoción revolucionária. Creo que una cinta política debe ser también un estímulo cultural y artístico. Y, para nosotros, latinos, que somos colonizados cultural y económicamente, nuestro cine debe ser revolucionario desde el punto de vista político y poético, o sea, tenemos que presentar IDEAS NUEVAS CON UN LENGUAJE NUEVO. América Nuestra no pretende ser una cinta DIDÁCTICA, pero sí una MANIFESTACIÓN, UNA PELÍCULA DE AGITACIÓN, UN DISCURSO VIOLENTO y también prueba de que en el terreno de la cultura el hombre latino, libre de la explotación colonialista, es capaz de crear.

— Estoy platicando con Glauber a respecho del cine y estas cosas, como la poesia y la política etc. Y yo soy simpatico a sus ideas pero ni siempre concordamos; platicamos, es la palabra. Otro dia hicimos un repente, que, como sabes, es una espécie de poesia improvisada que hacén los poetas populares del noreste del Brasil al sonido de una melodia. Ésta quien hizo fue Villa-Lobos: es el segundo movimento del quarteto numero 5, vivo y enérgico - para el orixá guerreiro?

Mote:

O negócio é o seguinte:
como fazer cinema
num país onde, como diz Bolívar,
o povo sempre avizinha a linha invisível
que separa a fome da morte passiva?

Será preciso ainda muita morte e vida
e muita pedra no caminho
ou, como Guevara quis um dia,
não a romântica aventura
mas a epopéia didática
de lutar contra os moinhos?

Glosa:

Daí o problema
que entrelaça a poesia e o real:

Nosso retardamento romântico
e o fato de ainda não termos começado a pensar
nos levam a um troca-passo contínuo,
cujo resultado é um neo-surrealismo.
Eis a tônica estilística da fábula.

Fábula que os poetas anunciam
num tom tal que atravessa o tempo
— tal tom é a poesia —:
que seja uma incessante novidade,
como, aliás, a Terra em que habitas:
uma guerra atemporal pela vida,
portanto não sem um aqui e um agora
— expor-se ao fora —;
uma guerra sem batalhas
mas não sem mortes nem sem falhas:
fazer o combate em si,
encontrar-se sem cessar em guerrilha.

Ó Senhor, Senhores, meus Senhores!

Não sois somente Vós os detentores
da verdade e da consciência humanas.
Em todas as revoluções há
os Generais,
os Poetas
e os Políticos.
Há também os crápulas e os moralistas;
os heróis de todas as horas
e os tiranos dos últimos momentos.
Vós defendeis uma causa pela qual
milhões de homens morreram e continuam morendo
em todas as partes do mundo.
Mas vós esqueceis que esta causa
ainda não tem todas as suas leis definidas
e que a essência desta causa repousa
nas suas próprias contradições:
e são essas contradições que a movem.
Eu posso ser uma dessas contradições superadas.
Admito mesmo a minha morte.
Matem-me.
Mas não pensem que sobre uma sangrenta intolerância
se pode construir um verdadeiro humanismo.
Por isso matem-me,
mas secretamente,
como se mata um bandido.
Matem-me porque eu duvidarei sempre da verdade.

Mas que não seja apenas morte em série a vossa oferta covarde
Quero morrer no chão,
valendo, valente,
de morte humana,
real,
sofrida,
lenta como o tempo de uma vida.
Não vos peço a paz, tampouco apoio a vossa guerra,
mas deixai-me lutar a minha – ela é contra-voz –
e aos outros, ora, as suas…
Ó Senhor, ó Senhores,
não podeis me oferecer cosolo algum.
Não com a fome ou com os sonhos que me impões.
Nem com a saúde e as saudades que me tiras.
Mas não pense que ao vivê-las, com elas não aprenda:
O estômago digere e ensina,
enquanto o sonho se despedaça no real comum,
essa minha exígua vida
difere do que não li, que nem sei ler,
é longa a espera, eu amei:
a invenção de um povo,
morrer de morte em vida
e ser noite ao vir de novo.

18.12.06

Território ocupado




A war may begin following an official declaration of war in the case of international war, although this has not always been observed either historically or currently. A declaration of war is not normally made in internal wars.

13.12.06

Cinema Português



« Quando cheguei a Cabo Verde, as pessoas fizeram-me aproximar delas e esse lado acabou por ficar mais no filme do que o lado da ficção. Descobri em Cabo Verde uma nobreza e uma generosidade que eu acho que nos últimos anos tem faltado a Portugal, não só no cinema mas em todas as áreas, devido a este poder miserável que temos, que não sabe ver nada e é ignorantíssimo. Estou desgostado de Portugal, não gosto dos sentimentos dos portugueses hoje em dia. E havia também um lado político da minha aproximação a Cabo Verde; por isso se fala no Tarrafal, que foi o primeiro campo de concentração do mundo. »

Pedro Costa,
em entrevista a Nuno Henrique Luz,
Diário de Notícias, 22/5/1994.

12.12.06

John Cassavetes

«Os personagens não devem vir da história ou da intriga; a história é que deve ser secretada pelos personagens.»

Essa é uma maneira como John Cassavetes tenta nos dar uma aproximação daquilo que é o seu método de trabalho.

Uma outra maneira de se aproximar desse segredo é assistindo Husbands, 1970.



E a diferença de assistir um filme, este filme, numa sala de cinema, e ainda por cima cheia, é que, por exemplo, às vezes a gente ri de coisas que, sozinhos, não riríamos. Quer dizer, começamos a enxergar de maneira diferente, nem que apenas um pouco. É um dos efeitos visíveis de um sonho coletivo. Um outro, quase consequência deste, seria uma espécie de retorno (mas agora, do ponto de vista do espectador) ao método que nos tornou essa idéia sensível: não mais pessoas sujeitadas pela História, mas apenas uma história secretada - em riso, em lágrimas, ou de uma qualquer outra maneira intensa - por essas pessoas.

«Essas pessoas têm um sonho, querem outra coisa da vida, e, às vezes, semtem-se perdidas, porque esses seus desejos não se concretizam. Então, encontram-se numa situação curiosa em que deixam de se comportar da mesma forma que os demais (...) Eu amo quando um personagem se encontra numa situação sem se dar conta do que vai fazer. Eu acredito que todos nós agimos desse modo.»
Gena Rowlands

«O cinema não conta para mim, as pessoas sim.»
John Cassavetes

«John Cassavetes era um grande diretor. Não posso me igualar a ele no cinema. Para mim ele representa um certo cinema que é bem superior.»
Jean-Luc Godard
The Guardian, 25 de abril de 2005


«E ainda mais, tanto na Índia como na URSS, tanto nos EUA como na Europa, já surgem jovens filmando com métodos opostos à indústria. Isso significa, sem alternativa, uma passagem do cinema como objeto de troca e de venda para a condição de objeto cultural ou artístico, realizado sem impedimentos. Passa o filme a ser produto do autor: e por isso mesmo cresce de importância e faz nascer uma esperança de que esta expressão febril do século não morrerá tão cedo, como se previa. Justamente na hora do cinema e de outras invencionices, surge um filme como Shadows, deJohn Cassavetes, fotografado primitivamente, livre das convenções. A indústria estabeleceu cânones técnicos que mais tarde se transformaram em contrafações estéticas: rosto iluminado, fotografia limpa, fusões perfeitas, sincronização matemática, travellings geométricos e macios. Tais preconceitos encarecem uma produção. Desde Rossellini que muitos destes princípios estão caindo. Procurano alienar o espectador, o americano criou as bases do opiário que os povos seguiram indistintamente. Mas acontece que o cinema de hoje não pode ser um mundo de mecânica visual e sonora que envolva apenas pela emoção. Tem de adotar uma posição de afastamento - precisa ser realidade fílmica que proponha um diálogo lúcido com o público sem usar o menor artifício. Nisto, inclusive, para países subdesenvolvidos como o nosso - e para toda a América Latina ou para o continente africano - o cinema tem de ser antes um instrumento político - não uma máquina panfletária que argumente em termos de certa demagogia esquerdista profissional - mas uma forma de dialogar com o homem colonial e sua injustificável existência.»
Glauber Rocha
Suplemento Dominical, 16 de setembro de 1961


trechos retirados deste catálogo editado pelo CCBB,
por ocasião da mostra John Cassavetes.

p.s.: Alguns personagens dessa conversa também secretam juntos a(s) História(s) do cinema, no episódio 1B (1'45''- 1'57'').

3.12.06

forumdoc.bh.2006


À flor da pele
, de Catarina Mourão,
filme vencendor da Mostra Competitiva Internacional

Xinã Bena, novos tempos, de Zezinho Yube
filme vencendor da Mostra Competitiva Nacional

forumdoc.bh.2006.

Mais cativante que o amor


Artaud escreve sobre A idade da Terra, de Glauber Rocha.

« 1/ Gosto de cinema.
Gosto de qualquer tipo de filme.
Mas todos os tipos ainda estão por criar.
Acredito que o cinema pode admitir apenas um certo tipo de filme: só aquele em que todos os meios de ação sensual do cinema tiverem sido utilizados.
O cinema implica uma subversão total de valores, uma desorganização completa da visão, da perspectiva da lógica. É mais excitante que o fósforo, mais cativante que o amor. Não podemos nos dedicar indefinidamente a destruir seu poder de galvanização pelo uso de assuntos que neutralizam seus efeitos e pertencem ao teatro.

2/ Exijo, portanto, filmes fantasmagóricos, filmes poéticos, no sentido denso, folosófico da palavra; filmes psíquicos.
O que não exclui nem a psicologia, nem o amor, nem o desnudamento de nenhum dos sentimentos do homem.
Mas filmes onde se opere uma trituração, um remanejamento das coisas do coração e do espítrio, a fim de lhes conferir a virtude cinematográfica que se está buscando.
O cinema exige temas excessivos e uma psicologia minuciosa. Exige a rapidez, mas sobretudo a repetição, a insistência, a reiteração. A alma humana em todos os seus aspectos. No cinema, somos todos [ ](1) – e cruéis. A superioridade e a lei poderosa dessa arte vêm do fato de seu ritmo, sua velocidade, seu caráter e distanciamento da vida, seu aspecto ilusório, exigirem um crivo cerrado e a essencialização de todos os seus elementos. Por isso ele exige de nós assuntos extraordinários, estados culminantes da alma e uma atmosfera visionária. O cinema é um notável excitante. Age diretamente sobre a massa cinzenta do cérebro. Quando o sabor da arte for aliado, em proporção suficiente, ao sabor psíquico que ele contém, ele deixará para trás o teatro, que relegaremos ao baú de recordações. Pois o teatro já é uma traição. Vamos ver aí muito mais os atores que as obras, pois são eles sobretudo que agem sobre nós. No cinema o ator não passa de um sogno(2) vivo. Ele é, sozinho, toda a cena, o pensamento do autor e a sequência dos acontecimentos. É por isso que nós não pensamos nessas coisas. Carlitos interpreta Carlitos, Pickford interpreta Pickford, Fairbanks interpreta Fairbanks. Eles são o filme. Não poderíamos imaginar o filme sem eles. Estão em primeiro plano, onde não incomodam ninguém. É por isso que não existem. Nada se interpõe entre nós e a obra. O cinema tem, sobretudo, a virtude de um veneno inofensivo e direto, uma injeção subcutânea de morfina. É por isso que o objeto do filme não pode ser inferior ao poder de ação do filme – deve conter o maravilhoso. »

(1) Uma lacuna no documento.
(2) No original, signo.