John Cassavetes
«Os personagens não devem vir da história ou da intriga; a história é que deve ser secretada pelos personagens.»
Essa é uma maneira como John Cassavetes tenta nos dar uma aproximação daquilo que é o seu método de trabalho.
Uma outra maneira de se aproximar desse segredo é assistindo Husbands, 1970.
E a diferença de assistir um filme, este filme, numa sala de cinema, e ainda por cima cheia, é que, por exemplo, às vezes a gente ri de coisas que, sozinhos, não riríamos. Quer dizer, começamos a enxergar de maneira diferente, nem que apenas um pouco. É um dos efeitos visíveis de um sonho coletivo. Um outro, quase consequência deste, seria uma espécie de retorno (mas agora, do ponto de vista do espectador) ao método que nos tornou essa idéia sensível: não mais pessoas sujeitadas pela História, mas apenas uma história secretada - em riso, em lágrimas, ou de uma qualquer outra maneira intensa - por essas pessoas.
«Essas pessoas têm um sonho, querem outra coisa da vida, e, às vezes, semtem-se perdidas, porque esses seus desejos não se concretizam. Então, encontram-se numa situação curiosa em que deixam de se comportar da mesma forma que os demais (...) Eu amo quando um personagem se encontra numa situação sem se dar conta do que vai fazer. Eu acredito que todos nós agimos desse modo.»
«O cinema não conta para mim, as pessoas sim.»
«John Cassavetes era um grande diretor. Não posso me igualar a ele no cinema. Para mim ele representa um certo cinema que é bem superior.»
«E ainda mais, tanto na Índia como na URSS, tanto nos EUA como na Europa, já surgem jovens filmando com métodos opostos à indústria. Isso significa, sem alternativa, uma passagem do cinema como objeto de troca e de venda para a condição de objeto cultural ou artístico, realizado sem impedimentos. Passa o filme a ser produto do autor: e por isso mesmo cresce de importância e faz nascer uma esperança de que esta expressão febril do século não morrerá tão cedo, como se previa. Justamente na hora do cinema e de outras invencionices, surge um filme como Shadows, deJohn Cassavetes, fotografado primitivamente, livre das convenções. A indústria estabeleceu cânones técnicos que mais tarde se transformaram em contrafações estéticas: rosto iluminado, fotografia limpa, fusões perfeitas, sincronização matemática, travellings geométricos e macios. Tais preconceitos encarecem uma produção. Desde Rossellini que muitos destes princípios estão caindo. Procurano alienar o espectador, o americano criou as bases do opiário que os povos seguiram indistintamente. Mas acontece que o cinema de hoje não pode ser um mundo de mecânica visual e sonora que envolva apenas pela emoção. Tem de adotar uma posição de afastamento - precisa ser realidade fílmica que proponha um diálogo lúcido com o público sem usar o menor artifício. Nisto, inclusive, para países subdesenvolvidos como o nosso - e para toda a América Latina ou para o continente africano - o cinema tem de ser antes um instrumento político - não uma máquina panfletária que argumente em termos de certa demagogia esquerdista profissional - mas uma forma de dialogar com o homem colonial e sua injustificável existência.»
Essa é uma maneira como John Cassavetes tenta nos dar uma aproximação daquilo que é o seu método de trabalho.
Uma outra maneira de se aproximar desse segredo é assistindo Husbands, 1970.
E a diferença de assistir um filme, este filme, numa sala de cinema, e ainda por cima cheia, é que, por exemplo, às vezes a gente ri de coisas que, sozinhos, não riríamos. Quer dizer, começamos a enxergar de maneira diferente, nem que apenas um pouco. É um dos efeitos visíveis de um sonho coletivo. Um outro, quase consequência deste, seria uma espécie de retorno (mas agora, do ponto de vista do espectador) ao método que nos tornou essa idéia sensível: não mais pessoas sujeitadas pela História, mas apenas uma história secretada - em riso, em lágrimas, ou de uma qualquer outra maneira intensa - por essas pessoas.
«Essas pessoas têm um sonho, querem outra coisa da vida, e, às vezes, semtem-se perdidas, porque esses seus desejos não se concretizam. Então, encontram-se numa situação curiosa em que deixam de se comportar da mesma forma que os demais (...) Eu amo quando um personagem se encontra numa situação sem se dar conta do que vai fazer. Eu acredito que todos nós agimos desse modo.»
Gena Rowlands
«O cinema não conta para mim, as pessoas sim.»
John Cassavetes
«John Cassavetes era um grande diretor. Não posso me igualar a ele no cinema. Para mim ele representa um certo cinema que é bem superior.»
Jean-Luc Godard
The Guardian, 25 de abril de 2005
The Guardian, 25 de abril de 2005
«E ainda mais, tanto na Índia como na URSS, tanto nos EUA como na Europa, já surgem jovens filmando com métodos opostos à indústria. Isso significa, sem alternativa, uma passagem do cinema como objeto de troca e de venda para a condição de objeto cultural ou artístico, realizado sem impedimentos. Passa o filme a ser produto do autor: e por isso mesmo cresce de importância e faz nascer uma esperança de que esta expressão febril do século não morrerá tão cedo, como se previa. Justamente na hora do cinema e de outras invencionices, surge um filme como Shadows, deJohn Cassavetes, fotografado primitivamente, livre das convenções. A indústria estabeleceu cânones técnicos que mais tarde se transformaram em contrafações estéticas: rosto iluminado, fotografia limpa, fusões perfeitas, sincronização matemática, travellings geométricos e macios. Tais preconceitos encarecem uma produção. Desde Rossellini que muitos destes princípios estão caindo. Procurano alienar o espectador, o americano criou as bases do opiário que os povos seguiram indistintamente. Mas acontece que o cinema de hoje não pode ser um mundo de mecânica visual e sonora que envolva apenas pela emoção. Tem de adotar uma posição de afastamento - precisa ser realidade fílmica que proponha um diálogo lúcido com o público sem usar o menor artifício. Nisto, inclusive, para países subdesenvolvidos como o nosso - e para toda a América Latina ou para o continente africano - o cinema tem de ser antes um instrumento político - não uma máquina panfletária que argumente em termos de certa demagogia esquerdista profissional - mas uma forma de dialogar com o homem colonial e sua injustificável existência.»
Glauber Rocha
Suplemento Dominical, 16 de setembro de 1961
Suplemento Dominical, 16 de setembro de 1961
trechos retirados deste catálogo editado pelo CCBB,
por ocasião da mostra John Cassavetes.
p.s.: Alguns personagens dessa conversa também secretam juntos a(s) História(s) do cinema, no episódio 1B (1'45''- 1'57'').por ocasião da mostra John Cassavetes.
2 comentários:
agora sim. agora sei de qual cineasta vc falou ontem à noite.
glaura
em boston existem salas e mostras e estudos constantes dedicados a ele... foi lá que descobri o nome, e os filmes.
ana
ps: sua memória está a passear aqui em casa
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