14.10.06

Quamvis incertum, à maneira de Espinosa; ou a poesia necessária

« Assidua autem meditatione eo perveni, ut viderem, quod tum, modo possem penitus deliberare, mala certa pro bono certo omiterem. Videban enim me in summo versari periculo, et me cogi, remedium, quamvis incertum, summis viribus quaerere; veluti aeger lethali morbo laborans, qui ubi mortem certam praevidet, ni adhibeatur remedium, illud ipsum, quamvis incertum, summis viribus cogitor quaerere, nempe in eo tota ejus spes est sita; illa autem omnia, quae vulgus sequitur, non tantum nullum conferunt remedium ad nostrum esse conservandum, sed etiam id impediunt, et frequenter sunt causa interitus eorum, qui e a possident, et semper causa interitus corum, qui ab iis possidentur. »



Toda arte é uma forma de redenção. Por redenção entendo: esforço. Esforço não apenas para suportar, mas para gerar mais vida na terra. Desejo, se quiserem. A terra é esse planeta azul que flutua num tempo/espaço absolutamente infinito. Por absolutamente infinito entendo: até onde/quando - como o pó que passa por uma peneira ou as constelações - nosso intelecto concebe e nossas afecções alcançam. Mas o absolutamente infinito é ainda constituído pelo infinitamente outro: por infinitas formas de concepção e de extensão... Numa delas, a nossa, esta concepção e esta extensão são tão ilimitadas quanto o infinito. O que limita - provisoriamente - o infinito é a matéria. Limita, coage. Um corpo, por exemplo. Sem este limite êfemero eu não sentiria, ainda que incerto, o calor do sol que se põe sobre a minha pele. A superfície é pois o ponto de contato de um limite (necessário) com o ilimitado (livre), com o absolutamente infinito (que em outras épocas já foi chamado de deus). Passando pelas peneiras e constelações de um limite qualquer (intelecto, audição, visão, tato, olfato, paladar etc. etc. etc.), o absolutamente infinito desvela-se sob uma forma; coerente, na maior parte do tempo, tanto quanto a coerência desse pássaro que agora passa impromptamente por mim. A essa coerência poderíamos dar o nome de ética. Mas para que esta ética seja possível, seria antes preciso dar um outro nome a ela, poesia. Sem a qual seria absolutamente impossível escutar isso: « Diz-se poesia o que existe exclusivamente pela necessidade da sua natureza e por si só é determinado a agir: «o amor realizado do desejo que permanece desejo» (René Char); e dir-se-á necessário, ou mais propriamente, coagido, o que é determinado por outra coisa a existir e a operar de certa e determinada maneira. » Poesia é o outro nome da arte, não já por sua natureza, mas apenas quanto ao modo de a alcançar. Como claramente se conclui do que ficou dito.

1 comentários:

Anonymous Anônimo escreveu:

o melhor é o sorriso do gajo, mesmo em estátua. oj lia na fnac sobre os pais portugueses dele. será que ele já esteve aqui. pode ser que tenha se encontrado com f.pessoa, ou outras pessoas, por estas calles. grande abraço ribastejo

22:19  

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