18.9.06

Em meio às ruínas

Uma forma de extrair do mundo as boas perguntas. E de fazê-las em movimento. De tornar o tempo sensível, alguém já dizia. E de dar a ele um relevo. Tarefa de mais a mais minoritária. Ou seja, interminável, aparentemente inútil, mas extremamente necessária. Ainda mais numa época, outro alguém já dizia, em que assistimos "ao vivo" a uma tentativa maciça de destruição do tempo.

No entanto, alguns ainda habitam esta casa em meio às ruínas, e pacientemente suportam o estridente som dos bombardeios e a terrível imagem dos corpos multilados. Não estão sós. Assim como não há nenhuma exclusividade, também não há nada de heróico nesse gesto. Apenas trabalho. Mas o cinema, por estar no campo de batalha - por ser ele mesmo o campo ou o plano onde ela se dá: a imagem - ocupa uma posição privilegiada na luta. E nos revela claramente este pequeno paradoxo: enquanto o objetivo do inimigo for destruir o tempo, todo gesto de resistência sempre soará anacrônico. Não é assim que soa todo farrapo e a nossa atual miséria?